domingo, 22 de abril de 2012

O EFEITO DE MATEUS



Quero partilhar mais uma crónica de Anselmo Borges publicada no DN, de 21 de Abril. Convém não tirar conclusões apressadas e interiorizar bem a mensagem que, embora pareça, não faz a apologia dos poderosos; antes pelo contrário…

É imperioso que não viciemos as regras do "jogo" e desenvolvamos as nossas capacidades para dar cumprimento aos desígnios de Deus.

"Significativamente, os mestres religiosos foram advertindo particularmente contra a ganância, que leva à corrupção, à opressão, à injustiça, à violência e à morte.
Ficam aí, a título de exemplo, três textos famosos do Evangelho segundo Lucas e São Mateus. Não se esqueça que Mateus sabia bem do que falava, pois tinha sido chefe de cobradores de impostos.
1. A primeira parábola é a do administrador infiel. Um homem rico tinha um administrador, que foi denunciado por ter dissipado os seus bens. Chamado a prestar contas e percebendo que ia ser demitido, reflectiu: "Que farei, visto que o meu patrão me tira o emprego? Lavrar a terra? Não posso. Mendigar? Tenho vergonha. Já sei o que vou fazer, para que haja quem me receba em sua casa, quando for despedido. Chamou, pois, separadamente, a cada um dos devedores do seu patrão e perguntou ao primeiro: Quanto deves? Ele respondeu: Cem medidas de azeite. Disse-lhe: Toma a tua conta, senta-te depressa e escreve: cinquenta. Depois, perguntou ao outro: Tu, quanto deves? Respondeu: Cem medidas de trigo. Disse-lhe o administrador: Toma os teus papéis e escreve oitenta."
Quando se olha para o descalabro de bancos, défices brutais em obras públicas, corrupções em cadeia, conhecidas e desconhecidas, somos levados a perguntar quantas vezes esta parábola se tornou realidade entre nós. Até sem papéis.
2. A segunda parábola é a dos talentos. A um foram dados cinco talentos – talento era uma unidade monetária. E ele, negociando, ganhou outros cinco. O que recebeu dois ganhou outros dois. O que recebeu apenas um foi cavar a terra e escondeu o dinheiro do seu senhor.
Quando o senhor voltou, prestaram contas. E os que tinham recebido cinco e dois talentos ouviram a sentença: "Muito bem, servo bom e fiel; já que foste fiel no pouco, confiar-te-ei muito. Vem regozijar-te com o teu senhor." Mas o que recebeu um só talento disse: "Senhor, sabia que és um homem duro, que colhes onde não semeaste e recolhes onde não espalhaste. Por isso, tive medo e fui esconder o teu talento na terra. Aqui está, toma o que te pertence." Sentença do senhor: "Servo mau e preguiçoso! Sabias que colho onde não semeio e que recolho onde não espalhei. Devias, pois, levar o meu dinheiro ao banco e, à minha volta, eu receberia com os juros o que é meu. Tirai-lhe este talento e dai-o ao que tem dez."
E seguem-se estas palavras terríveis: "Ao que tem dar-se-á e terá em abundância. Mas ao que não tem até o que tem lhe será tirado."
Ora, não é esta a lógica da Banca? Não se trata, evidentemente, de modo nenhum, de legitimar a preguiça e a inépcia. Mas não é uma constatação: os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres? Aí está o que os sociólogos denominam, precisamente a partir da parábola, o "efeito de Mateus": quem leu mais em criança tem mais possibilidades em adulto; com trabalhos e resultados iguais, os cientistas mais famosos serão mais citados do que os menos famosos; quem mais tem, em princípio, aumentará constantemente a sua riqueza.
3. Mas, no Evangelho, depois destas parábolas, vem o Juízo Final. Do que se trata é de revelar o essencial da história do mundo, na perspectiva de Deus. E o decisivo não são actos de culto, mas a justiça e a solidariedade: "Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado, porque tive fome e destes-me de comer; tive sede e destes-me de beber; era peregrino e acolhestes-me; nu e vestistes-me; enfermo e visitastes-me; estava na prisão e viestes ver-me."
Os justos não sabiam: "Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, com sede e te demos de beber, peregrino e te acolhemos, nu e te vestimos, enfermo ou na prisão e te fomos visitar?" E Cristo: "Todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos foi a mim mesmo que o fizestes." O que se faz ao outro é feito a Cristo.
Entretanto, parece confirmar-se cada vez mais o "efeito de Mateus": não está o fosso entre os ricos e os pobres cada vez mais fundo? Cuidado! A situação pode tornar-se explosiva."

Anselmo Borges

sábado, 7 de abril de 2012

A ESSÊNCIA DA NOSSA FÉ



Páscoa de 2012.

Jesus ressuscitou, aleluia!

Se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé e permaneceis ainda nos vossos pecados (1Cor 15,17).

Acentua-se o desrespeito pelos valores humanos e, indirectamente, pelos religiosos. Cada vez mais, as pessoas refugiam-se no Cristo Milagroso; já foi por meio dos milagres que os discípulos descobriram a presença de Deus, vendo em Jesus de Nazaré o Filho de Deus.

Para além da Graça de Deus para connosco nos apoios directos que nos presta, meditemos na essência da nossa fé – o Credo:

O CREDO
MEDITAÇÃO
Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso
Criador do Céu e da Terra,
De todas as coisas visíveis e invisíveis.
Não querendo criar hipóteses alternativas à individualidade de Deus, dada a minha limitação de homem, permito-me levantar uma questão: Se houvesse mais que um Deus teria de haver uma hierarquização, nem que fosse somente de competências; a entidade maior seria o único Deus, pois sobrepunha-se aos outros. Assim sendo, essa entidade seria Deus.
Creio em um só Senhor, Jesus Cristo,
Filho Unigénito de Deus,
Nascido do Pai antes de todos os séculos:
Deus de Deus, luz da luz,
Deus verdadeiro de Deus verdadeiro;
Gerado, não criado, consubstancial ao Pai.
Por Ele todas as coisas foram feitas.
Jesus Cristo, enquanto homem, é o único que merece e a quem deve ser dado, em exclusivo, o tratamento de Senhor. Senhor, neste caso, será: – dono absoluto, possuidor de algum Estado (o Reino de Deus), território ou objecto; rei, chefe; título honorífico de alguns monarcas; título que se conferia a, antigamente, a pessoas distintas, quer fosse pela sua posição, quer pela dignidade de que estavam investidas.
E por nós homens e para nossa salvação
Desceu dos Céus.
E encarnou pelo Espírito Santo,
No seio da Virgem Maria,
E se fez homem.
Somente enquanto Homem o Filho de Deus poderia mostrar e demonstrar, nessa sua condição, o seu amor. Esse amor é, na realidade, a grande Nova que Jesus nos dá – "…Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior que estes" (Mc 12,31).
Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos;
Padeceu e foi sepultado.
Ressuscitou ao terceiro dia,
Conforme as Escrituras;
E subiu aos Céus, onde está sentado à direita do Pai.
Sem revolta, perdoando a quem o matou, demonstrando – como o fez ao longo da sua vida através do seu poder de curar, ressuscitar mortos e demais milagres – que, se quisesse, não necessitaria de ser morto… Amor é, como dizia Camões, "ter com quem nos mata lealdade". Não há maior prova de amor do que dar a vida por outra pessoa, e Jesus fê-lo com Amor; Amor que é a essência do Cristianismo.
De novo há-de vir em sua glória
Para julgar os vivos e os mortos;
E o seu Reino não terá fim.
É a Parúsia, i.e. a segunda vinda de Jesus Cristo, no fim dos tempos. Assemelha-se, e por vezes confunde-se, com o conceito de escatologia – a realidade posterior à vida terrena, ao futuro do homem concreto, após a sua morte.
Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida,
E procede do Pai e do Filho;
E com o Pai e o Filho é adorado e glorificado: Ele que falou pelos profetas.
Mas Deus Pai, Jesus e o Espírito Santo são um único ser. A Santíssima Trindade é um único ser constituído da mesma substância divina – as Três Pessoas são O Único Deus.
O Espírito Santo é a fonte de inspiração…
Creio na Igreja una, santa, católica e apostólica.
Igreja – do grego ekklesia – quer dizer "Assembleia". É a comunidade religiosa baseada na religião fundada por Jesus Cristo. É o Corpo Místico de Cristo – não simples sociedade humana; é o povo de Deus organizado como sociedade hierárquica, divina e humana. É o sinal e o instrumento da íntima união de Deus com os homens e, destes, entre si.
Professo um só Baptismo para a remissão dos pecados.
O baptismo é um rito de passagem (i.e. que muda o status de uma pessoa dentro de uma comunidade), feito normalmente com água sobre o iniciado. Este rito de iniciação está presente em vários grupos, religiosos ou não, onde destacam-se os cristãos. Na Igreja Católica, o batismo é o sacramento através do qual o Sacrifício Pascal de Jesus Cristo se aplica às almas, tornando-as membros da Igreja e abrindo o caminho da salvação eterna.
E espero a ressurreição dos mortos
E a vida do mundo que há-de vir. Ámen.
A ressurreição é considerada a base fundamental do cristianismo. Como disse S. Paulo aos Coríntios "e, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé e permaneceis ainda nos vossos pecados (1Cor 15,17).
O cristão ao crer na ressurreição dos mortos e na vida eterna, acredita que nós – seres humanos –, teremos um futuro melhor.
Nós cremos firmemente que, tal como Jesus ressuscitou dentre os mortos e que vive para sempre, assim também os justos, depois da morte, viverão para sempre com Cristo Ressuscitado, e que Ele os ressuscitará.