sexta-feira, 29 de junho de 2012

AS MULHERES NA VIDA DE JESUS







Jesus nunca foi misógino. Não só não discriminou as mulheres, como as valorizou.
"Afastadas dos problemas sociais, excluídas da vida pública, as mulheres eram grandes perdedoras na sociedade judaica do tempo de Jesus. Por isso não deixa de surpreender a 'ousadia' do Mestre, que contava com algumas no grupo itinerante dos seus discípulos". Esta afirmação foi feita por Ariel Álvarez Valdés, doutor em Teologia Bíblica, Santiago del Estero, Argentina e contida num artigo publicado na revista Mensaje.

Se Jesus veio anunciar o grande mandamento do amor, essência da salvação, não poderia, em caso algum, discriminar alguém. Amar o próximo como a nós mesmos não é uma mensagem dirigida somente aos homens, aos crentes, aos discípulos, aos piedosos… Não! É uma mensagem dirigida a toda a humanidade: Homens, mulheres, fiéis, crentes e não crentes, pagãos, judeus, gentios, estrangeiros, amigos e inimigos… Dirigida a todos. E, ao longo da sua vida, demonstrou isso mesmo.

Durante sua vida, Jesus configurou um novo tipo de discipulado itinerante. Mas sua atitude mais inovadora e audaz foi a de ter admitido mulheres nesse grupo, que viajavam com ele, compartilhando essas instruções.
Na sua época, as mulheres não gozavam de tais liberdades. Não era bem visto que tivessem tratamento directo com outros homens que não fossem seus familiares. E, quando iam ao templo, com motivo de uma festa religiosa, não podiam ingressar no pátio onde estavam os homens, devendo permanecer num claustro exclusivo. Também quando iam rezar nas sinagogas, permaneciam separadas dos homens.
Afastadas dos problemas sociais, excluídas da vida pública, separadas dos debates religiosos, sem concorrência em questões políticas, eram as grandes perdedoras na sociedade judia dos tempos de Jesus. Sua função se reduzia ao cuidado da casa e dos filhos. Por isso não deixa de surpreender a ousadia do Mestre de Nazaré.

Eis algumas das mulheres mais importantes na vida de Jesus:

- Maria de Nazaré, de mãe a discípula. Aquele hino – o Magnificat –, que Maria de Nazaré recita quando visita a prima Isabel, depois de ambas ficarem grávidas, diz: “A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador. Porque pôs os olhos na humildade da sua serva. (…) Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias (…)”, é, sem dúvida (como o refere Isabel Gómez Acebo), o “texto mais revolucionário” que se poderia cantar. Há uma linha de pensamento no catolicismo que fala do silêncio de Maria (não convinha…), mas ela questiona muito: quando faz perguntas ao anjo na anunciação, no Magnificat ou quando diz ao filho, nas bodas de Caná – a auto-revelação de Jesus –, que "não há vinho…!"É, de facto, uma personalidade muito marcante.

- Maria Madalena, a apóstola dos apóstolos. “Quem foi, de facto, Maria Madalena: uma pecadora arrependida, uma discípula predilecta, a enviada (apóstola) a anunciar a ressurreição, a esposa de Jesus?”
Foi o Papa Gregório Magno (590-604) que, num sermão de Páscoa, identificou Maria Madalena, Maria de Betânia e a pecadora que unge Jesus com o perfume como a mesma mulher. Nada mais errado, pois os evangelhos são claros em distinguir três pessoas diferentes.
Natural de Magdala, pequena cidade da Galileia, Maria é referida nos evangelhos como alguém que, a par de outras mulheres, cuidava de Jesus e colocara os seus bens ao serviço do grupo. O facto “sugere que Maria Madalena era uma pessoa com recursos, que ofereceu a sua devoção a Jesus, que a curara” de “sete demónios”, nota Geza Vermes, que dirige o Centro de Estudos Hebraicos de Oxford. “Não me importa de que cor era o amor que ela tinha, o que interessa é que era tão grande que mudou a sua vida.”

- Maria de Betânia, a discípula que escuta o hóspede. Marta atarefava-se “com muitos serviços”, como conta Lucas. Marta queixa-se da irmã a Jesus, mas este repreende-a: “Marta, Marta, andas inquieta e perturbada com muitas coisas; mas uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada.” “Estar aos pés do mestre é, na literatura rabínica, ser discípulo de alguém”, diz a religiosa espanhola Isabel Maria Fornari, autora de uma tese com o título "La Escucha del Huésped" (ed. Verbo Divino, Espanha), onde estuda este episódio. Mas a cena remete também para a hospitalidade bíblica, que inclui um elemento importante – o da comunicação. “É importante servir, comer, mas, quando alguém vem a nossa casa, mais importante é a comunicação que se estabelece.”
O facto de Maria de Betânia se colocar à escuta, diz ainda Maria Vaz Pinto, é “também uma manifestação de amor: estar quieta, aprender, ouvir, deixar-se tocar”.

- A Samaritana, saltar todas as normas da "moral". É, provavelmente, um dos textos mais notáveis dos evangelhos, este em que Jesus pede água a uma samaritana. Duplo pecado: dirigir a palavra a uma mulher, ainda por cima da Samaria – “os judeus não se dão bem com os samaritanos”, explica a narrativa de São João. A cena decorre por volta do meio-dia, junto ao poço de Jacob, em Sicar. Jesus está cansado e quer descansar e refrescar-se.
“Jesus adopta logo, implicitamente, o lugar inferior. As suas palavras não são uma ordem, mas um pedido. Dirige-se [à samaritana] de mãos vazias, à procura de qualquer coisa que só ela é capaz de lhe dar”, escreve o Irmão John, de Taizé (À Beira da Fonte, ed. AO).
O diálogo prossegue com Jesus a dizer que chegará a hora em que Deus será adorado “em espírito e verdade” e não num qualquer templo. E quando a mulher diz que todos esperam o messias, Jesus diz-lhe: “Sou eu, que estou a falar contigo” – é a única vez em que se assume como tal perante alguém.

- A pecadora de Betânia, Jesus deixa-se acariciar. É uma mulher que “entra e sai em silêncio, mas o leitor sente que a sua passagem se revestiu de uma eloquência ímpar”, escreve o biblista José Tolentino Mendonça em "A Construção de Jesus" (ed. Assírio & Alvim). Nesta obra, o autor analisa o episódio em que uma pecadora irrompe pela casa de Simão, um fariseu que convidara Jesus.
“Estando por detrás, aos seus pés, chorando começou a banhar-lhe os pés com lágrimas e com os cabelos da sua cabeça os enxugava e beijava-lhe os pés e ungia-os com perfume”, conta o texto de São Lucas. Simão diz para consigo: “Se este fosse profeta, saberia quem é e de que espécie é a mulher que o toca, pois é uma pecadora!” Jesus pressente o que ele pensa e, depois de lhe contar uma parábola, diz que a mulher lhe banhou os pés com as suas lágrimas e o perfumou. E conclui: “São perdoados os pecados dela, os muitos, porque amou muito.”


sexta-feira, 1 de junho de 2012

INTELIGENT DESIGN



Tive conhecimento, muito recentemente, do conteúdo da obra "Secular Philosophy and the Religious Temperament: Essays 2002-2008", de Thomas Nagel, o que me deixa curioso e impaciente para o ler.

Thomas Nagel é um filósofo dos Estados Unidos nascido em Belgrado, a 4 de Julho de 1937. Actualmente é professor de Filosofia e Direito na New York University. Os seus trabalhos centram-se, principalmente, na Filosofia da Mente, na Filosofia Política e na Ética. Notabilizou-se, ainda, pela crítica desenvolvida aos estudos reducionistas sobre a mente, através da sua obra "What Is it Like to Be a Bat?" ("Como é ser um morcego?"), de 1974.

É, também autor de "Uma breve introdução à Filosofia"; obra de divulgação que aborda temas da filosofia em linguagem acessível, propondo uma reflexão individual acerca de questões como "saber o que é o certo e o que é o errado".

Há uns anos, Nagel conseguiu encolerizar muitos ateus militantes e várias dezenas de cientistas, quando recomendou, no Times Literary Supplement, um livro de Stephen Meyer, "Signature in the cell", defendendo uma variante do Criacionismo, denominada Concepção Inteligente (Intelligent Design).

O problema dos críticos de Nagel, no que toca à recomendação feita ao citado livro, é que confundiram duas questões, cujo ensaio "Secular Philosophy and the Religious Temperament" cuida clarificar os conceitos, criando duas alternativas:
- Acreditar que Deus existe e que foi ele que criou o Universo, connosco incluídos; ou
- Acreditar que a vida está cientificamente ordenada através de uma vontade inteligente, mesmo que não se acredite em Deus.

Para Nagel, esta dissociação é possível.

Claro que estando envolvida na discussão uma possibilidade de ligação a Deus, há imediatamente uma espiral de loucura e excessos à volta dos argumentos utilizados de parte a parte.

Nagel é a melhor excepção que encontro neste momento, além de que não é aquilo a que se chama "um crente".
- Analisados estes pressupostos, dou comigo a pensar em duas questões alternativas (cada vez mais actuais):A vida, na generalidade (ou apenas a vida humana[?]), foi-se desenvolvendo por contingências avulsas, motivada por mecanismos de sobrevivência, como defendem os seguidores de Darwin…? ou
- Foi gizada de acordo com uma inteligência superior, mesmo que não seja considerada Deus, mas apenas um outro tipo de ser, suficientemente inteligente para nos criar…?

Eu tenho uma opção relativamente a estas duas questões; só que esse Ser, para mim, está bem definido…