Adolfo Pérez
Esquivel é um arquitecto, escultor e activista de direitos humanos, agraciado
com o Nobel da Paz de 1980.
Percebe-se,
pelo seu sentir da “via crucis” a
dimensão do cristianismo que, infelizmente, não se pratica, ou melhor – não se vive.
Eis Jesus a
caminho do Calvário – Jesus cai pela 3ª
vez – na 9ª Estação da Via-Sacra:
Jesus
começou sua missão de Reino na Rua
Verdadeira, em áreas marginais, suburbanas da Galileia: Entre crianças sem
família, mulheres da vida, pobres sem abrigo... Também a igreja do início foi suburbana,
estendeu-se entre as camadas inferiores das grandes populações do Império…
A Via-Sacra (Via
Crucis) de Pérez Esquivel, ajuda-nos a fazer este itinerário, e assim apresenta-nos
Jesus com a cruz pela rua, entre crianças sem lar (meninos da rua) e os jovens
desempregados. Eis os cinco momentos-chave do seu itinerário:
- Jesus foi, em geral, o Cristo dos marginalizados: Com eles transporta
a cruz, na sua escola aprende a lição messiânica da vida, a densidade real da
esperança.
- Nós vimos Jesus como o Cristo das Bandeiras, assumindo e
compartilhando o grande protesto dos pobres e insubmissos, as reivindicações dos
revoltados que buscam pão, terra e liberdade.
- Nós vimo-lo como o Cristo das Mulheres. Não é o Messias de
David, na linha real dos monarcas que buscam o poder para transformar a
realidade (com mais poder, mesmo sagrado). É o Cristo-Messias das mulheres que
sofrem e mantêm com o seu pranto activo o caminho da história.
- Ele foi o Cristo dos indígenas do planalto andino e de todos
os países do mundo, Messias dos agricultores, dos abandonados, dos marginalizados
e dos explorados pelo grande desenvolvimento duma agro-indústria, de um
capitalismo urbano que destrói a terra e marginaliza os homens do campo.
- Agora, aparece como Cristo dos Explorados Urbanos dos subúrbios
das grandes cidades. O peso demográfico da humanidade está a passar do campo para
os subúrbios das grandes cidades... Mais da metade da população mundial vive em
grandes urbanizações (Rio e Lima, Buenos Aires e Kinshasa ...)
Esta é a experiência cuja imagem
queria destacar na 9ª Estação da Via Sacra de P. Esquivel. Cristo mora ali e passa com a sua
cruz pelas "ruas" baixas da
periferia urbana de um mundo em movimento, mas que não sabe oferecer aos homens
e mulheres (e especialmente às crianças) uma possibilidades e perspectivas de
crescimento digno e decente.
Para poderem
sobreviver alguns trabalham como vendedores ambulantes, distribuem gelados e
jornais, limpam janelas e recolhem papel usado... Muitos vivem entre marginais,
prostitutas e bandidos, perseguidos por uma polícia que impõe uma tipo de ordem
pela força, mas que não educa.
Ia Jesus
pela rua, com a cruz da vida e da esperança da ressurreição, perseguido por um
tipo de polícia do sistema, entre os vendedores de rua, ao lado de crianças e
jovens que dormem ao relento, sob papelão, sem ordem nem família, carregando a
cruz, enquanto a maioria se limita a olhá-lo...
Este é o
Jesus que disse: “Quem receber um destes meninos em meu nome é a
mim que recebe; e quem me receber, não me recebe a mim mas àquele que me enviou” (Mc 9:37). Este é o Jesus que
queria plantar o Reino de Deus entre estas pessoas da rua: pobres e doentes, proscritos,
crianças sem família. Aqui tem de começar de novo o trabalho da igreja, como
sabem centenas e milhares de cristãos que seguem Jesus partilhando com as
crianças os caminhos da rua, para oferecer-lhes esperança de um lar.