terça-feira, 26 de março de 2013

VIA-SACRA




Adolfo Pérez Esquivel é um arquitecto, escultor e activista de direitos humanos, agraciado com o Nobel da Paz de 1980.

Percebe-se, pelo seu sentir da “via crucis” a dimensão do cristianismo que, infelizmente, não se pratica, ou melhor – não se vive.

Eis Jesus a caminho do Calvário – Jesus cai pela 3ª vez – na 9ª Estação da Via-Sacra:
Jesus começou sua missão de Reino na Rua Verdadeira, em áreas marginais, suburbanas da Galileia: Entre crianças sem família, mulheres da vida, pobres sem abrigo... Também a igreja do início foi suburbana, estendeu-se entre as camadas inferiores das grandes populações do Império…

A Via-Sacra (Via Crucis) de Pérez Esquivel, ajuda-nos a fazer este itinerário, e assim apresenta-nos Jesus com a cruz pela rua, entre crianças sem lar (meninos da rua) e os jovens desempregados. Eis os cinco momentos-chave do seu itinerário:

- Jesus foi, em geral, o Cristo dos marginalizados: Com eles transporta a cruz, na sua escola aprende a lição messiânica da vida, a densidade real da esperança.

- Nós vimos Jesus como o Cristo das Bandeiras, assumindo e compartilhando o grande protesto dos pobres e insubmissos, as reivindicações dos revoltados que buscam pão, terra e liberdade.

- Nós vimo-lo como o Cristo das Mulheres. Não é o Messias de David, na linha real dos monarcas que buscam o poder para transformar a realidade (com mais poder, mesmo sagrado). É o Cristo-Messias das mulheres que sofrem e mantêm com o seu pranto activo o caminho da história.

- Ele foi o Cristo dos indígenas do planalto andino e de todos os países do mundo, Messias dos agricultores, dos abandonados, dos marginalizados e dos explorados pelo grande desenvolvimento duma agro-indústria, de um capitalismo urbano que destrói a terra e marginaliza os homens do campo.

- Agora, aparece como Cristo dos Explorados Urbanos dos subúrbios das grandes cidades. O peso demográfico da humanidade está a passar do campo para os subúrbios das grandes cidades... Mais da metade da população mundial vive em grandes urbanizações (Rio e Lima, Buenos Aires e Kinshasa ...)

Esta é a experiência cuja imagem queria destacar na 9ª Estação da Via Sacra de P. Esquivel. Cristo mora ali e passa com a sua cruz pelas "ruas" baixas da periferia urbana de um mundo em movimento, mas que não sabe oferecer aos homens e mulheres (e especialmente às crianças) uma possibilidades e perspectivas de crescimento digno e decente.

Para poderem sobreviver alguns trabalham como vendedores ambulantes, distribuem gelados e jornais, limpam janelas e recolhem papel usado... Muitos vivem entre marginais, prostitutas e bandidos, perseguidos por uma polícia que impõe uma tipo de ordem pela força, mas que não educa.

Ia Jesus pela rua, com a cruz da vida e da esperança da ressurreição, perseguido por um tipo de polícia do sistema, entre os vendedores de rua, ao lado de crianças e jovens que dormem ao relento, sob papelão, sem ordem nem família, carregando a cruz, enquanto a maioria se limita a olhá-lo...

Este é o Jesus que disse: “Quem receber um destes meninos em meu nome é a mim que recebe; e quem me receber, não me recebe a mim mas àquele que me enviou” (Mc 9:37). Este é o Jesus que queria plantar o Reino de Deus entre estas pessoas da rua: pobres e doentes, proscritos, crianças sem família. Aqui tem de começar de novo o trabalho da igreja, como sabem centenas e milhares de cristãos que seguem Jesus partilhando com as crianças os caminhos da rua, para oferecer-lhes esperança de um lar.

Sem comentários:

Enviar um comentário