domingo, 16 de junho de 2013

A RELEVÂNCIA DA MULHER NO CRISTIANISMO (1)


Jesus amigo de prostitutas, publicanos, órfãos, viúvas, estrangeiros (samaritana), doentes (leprosos), loucos e escravos – amigo dos marginalizados.


(Dom 11. Ciclo c. Lc 7, 36-8,3). Neste Domingo, Lucas continua a colocar-nos perante o relacionamento de Jesus (Igreja) com as pessoas marginalizadas (neste caso, prostitutas), como nos domingos anteriores o fez com os órfãos, viúvas e estrangeiros.
Trata-se de um tema "complexo", que que se liga com opressão e sexo, moral intimista e moral social ("pecado" pessoal, pecado de dinheiro), mundo e Igreja (podendo-se passar facilmente da prostituição à pornografia infantil, à pederastia e aos lobbies de cariz sexual).
É, além de mais, uma questão de organização ou de ministérios eclesiais; tanto se pode passar do assunto sobre as mulheres "sacerdotes", como assumir a "prostituta recuperada" pelo amor (cf. Lc 7,36-50), às mulheres que "servem" a Jesus e ao evangelho – as primeiras "apóstolas" de Jesus.
Este assunto prossegue uma questão fundamental da vida da Igreja e de toda a humanidade, tema de mulheres e homens, tema de poder e de afecto, de opressão e liberdade. A mensagem de Jesus continua a ser forte.
A prostituição tem tido ao longo da história várias funções entre as quais se podem recordar as do tipo religioso: nos grandes santuários das deusas, da Palestina e da Babilónia até à Índia, costumava haver mulheres e homens: prostitutos sagrados (hierodules), que agiam como um sinal da divindade, iniciadores sexuais dos homens (e mulheres) na arte do amor (neste contexto pode-se falar de Ishtar e Ísis, do casamento sagrado e do tantrismo). Mas, em geral, a prostituição separou-se do culto e converteu-se numa forma de imposição e opressão económica, sexual, afectiva.
Em quase todas as culturas edificadas sob os princípios patriarcais foi tolerada a prostituição das mulheres como forma de regular a sexualidade dos homens e de manter seguras as relações familiares (até meados do século XX era costume justificar a existência dos bordéis como forma de garantir a harmonia da família). Em geral, a mulher casada encontrava-se submetida ao marido e carecia de liberdade afectiva; por isso:
– Nalguns casos, a prostituta pode tornar-se como sinal de mulher libertada;
Mas a imensa maioria das prostitutas acabam por se tornarem meras escravas sexuais.
É destas últimas prostitutas que fala o Evangelho. Ela são mulheres “violadas, dominadas, destruídas”. Numa sociedade patriarcal sempre houve prostitutas; mas o seu número e a opressão sobre elas aumenta nos tempos de crise económico-social e de ruptura familiar, como aquela porque passava a Galileia no tempo de Jesus Cristo. Tinham-se multiplicado as mulheres que estavam sós, sem terra e sem trabalho, sem família e sem possibilidades laborais, sem qualquer outro “capital” que não fosse o seu próprio corpo, num mundo onde só importava a ganância do sistema. A situação social condenava-as à “prostituição”, isto é, ao desenraizamento e à fome, à ignomínia social e à impureza.
É evidente que Jesus, profeta dos pobres e excluídos, teve que se vincular a elas; de uma forma muito especial se relacionou com os impuros e com os demais excluídos da sociedade, com os doentes e com os loucos, com o submundo dos homens e das mulheres condenados pela mesma sociedade à opressão laboral e sexual (que em muitos casos estavam unidas). A relação de Jesus com as prostitutas (e com os publicanos) constitui um dos temas centrais e mais enigmáticos do Evangelho, onde Jesus se compara a João Baptista. Os “justos” de Israel (ou de qualquer sociedade estabelecida) condenam-no por andar com gente de má vida. Jesus defende-se:
– “Os cobradores de impostos e as prostitutas vão preceder-vos no Reino de Deus. João veio até vós, ensinando-vos o caminho da justiça, e não acreditastes nele; mas os publicanos e as meretrizes acreditaram nele. E vós, nem depois de verdes isto, vos arrependestes para acreditar nele” (Mt 21,31-32).
Era um tempo e lugar de escravos (pessoas que tinham de vender-se e faziam-no por motivos de trabalho e subsistência; era um tempo de “pecadores” (pessoas que pareciam e eram impuras, desde as perspectivas de pureza da elite sacerdotal e desde o novo legalismo dos judeus); era um tempo de prostitutas (mulheres sem capacidade e sem possibilidades de um desenvolvimento afectivo e familiar que respondesse às exigências morais e religiosas daquele tempo).
Dizer que Jesus era amigo de publicanos e prostitutas é dizer que era amigo de marginais sociais e morais, de homens e mulheres que não têm nem podem desenvolver o seu próprio trabalho, de tal maneira que vivem por um lado “oprimidos” e por outro prece que oprimem manipulando os outros (os “bons” cidadãos) aparecendo, desta forma, como objectos da exploração e, simultaneamente, do desprezo violento do conjunto da população.
Foi neste “vespeiro” humano que Jesus entrou, tornando-se amigo de prostitutas e publicanos para iniciar com eles o caminho do Reino de Deus – movimento integral, anti cultural, de transformação humana.
Não conheceremos Jesus se não o virmos no contexto e no ambiente das “tabernas” e nos lugares onde se encontravam os “expulsos da sociedade” e onde Jesus conheceu o publicanos e as prostitutas, os enfermos, os loucos e os demais marginalizados, compartilhando com eles o escasso pão e vinho que possuía, oferecendo-lhes o caminho e a esperança.

Jesus e a prostituta (Texto Lucas 7, 36-8, 3)
Um fariseu convidou-o para comer consigo. Entrou em casa do fariseu, e pôs-se à mesa. Ora certa mulher, conhecida naquela cidade como pecadora, ao saber que Ele estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um frasco de alabastro com perfume. Colocando-se por detrás dele e chorando, começou a banhar-lhe os pés com lágrimas; enxugava-os com os cabelos e beijava-os, ungindo-os com perfume.
Vendo isto, o fariseu que o convidara disse para consigo: «Se este homem fosse profeta, saberia quem é e de que espécie é a mulher que lhe está a tocar, porque é uma pecadora!»
Então, Jesus disse-lhe: «Simão, tenho uma coisa para te dizer.» «Fala, Mestre» - respondeu ele. «Um prestamista tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos denários e o outro cinquenta. Não tendo eles com que pagar, perdoou aos dois. Qual deles o amará mais?» Simão respondeu: «Aquele a quem perdoou mais, creio eu.» Jesus disse-lhe: «Julgaste bem.» E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: «Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para os pés; ela, porém, banhou-me os pés com as suas lágrimas e enxugou-os com os seus cabelos. Não me deste um ósculo; mas ela, desde que entrou, não deixou de beijar-me os pés. Não me ungiste a cabeça com óleo, e ela ungiu-me os pés com perfume. Por isso, digo-te que lhe são perdoados os seus muitos pecados, porque muito amou; mas àquele a quem pouco se perdoa pouco ama.» Depois, disse à mulher: «Os teus pecados estão perdoados.»
Começaram, então, os convivas a dizer entre si: «Quem é este que até perdoa os pecados?» E Jesus disse à mulher: «A tua fé te salvou. Vai em paz.»
Em seguida, Jesus ia de cidade em cidade, de aldeia em aldeia, proclamando e anunciando a Boa-Nova do Reino de Deus. Acompanhavam-no os Doze e algumas mulheres, que tinham sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demónios; Joana, mulher de Cuza, administrador de Herodes; Susana e muitas outras, que os serviam com os seus bens.

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